Memória

"Nós acampamos no mato, e ficamos esperando o vento nas folhas das árvores, para ver se ele ensina uma cantiga nova, um canto cerimonial novo, se ele ensina, e você ouve, você repete muitas vezes esse canto, até você apreender......Sonho de verdade é quando você sente, comunica, recupera a memória da criação do mundo onde o fundamento da vida e o sentido do caminho do homem no mundo é contado para você......Não existiu uma criação do mundo e acabou! Todo instante, todo momento, o tempo todo é a criação do mundo.....Elas foram todas fundadas a partir da palavra que foi ordenando a criação do mundo, que quando nós narramos as histórias antigas nós criamos o mundo de novo, limpamos o mundo......E que humanidade é essa que precisa depositar sua memória nos museus, nos caixotes?..... Ela não sabe sonhar mais. Então ela precisa guardar depressa as anotações dessa memória........Quando os homens trabalham de dia, de noite, de dia, de noite, qualquer hora, eles estão se parecendo muito com a criação dos homens mesmo, que são as maquinas, mas muito pouco parecido com o criador do homem que é espírito........Essa humanidade que esta cada vez mais ocidental, civilizada e tecnológica, lembre, ela também, dessa memória comum que os humanos têm da criação do mundo, e que consigam dar uma medida para a sua historia, para a sua historia que esta guardada, registrada nos livros, nos museus, nas datas, porque, se esta sociedade se reportar a uma memória, nós podemos ter alguma chance......E, entre a história e a memória, eu quero ficar com a memória.”
Fragmentos do texto elaborado a partir de exposição oral de Ailtom Krenak, contidos na coleção: Tempo e História.

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