Os erros comummente são partos da sabedoria humana; o errar propriamente é dos sábios, porque o erro supõe conselho, e premeditação; os ignorantes quási que obram por instinto; a ciência sabe legitimar o erro, a ignorância não; por isso nesta não há perigo de que ninguém o aprove; ao passo que naquela há o perigo de que a multidão o siga. O erro na mão de um sábio é como uma lança penetrante, e forte; na mão de um ignorante, é como uma arma quebrada, sem uso, nem consequência. As coisas parecem que recebem mais da forma, que se lhes dá, que da natureza que têm; não se atende à substância do mármore, ao polido sim; a dureza importa menos que a figura. As ciências são as que dão o lustre às coisas, e sempre dão o lustre que lhes parece; ou duvidoso, ou falso, ou verdadeiro; a vaidade, é o artífice.
Matias Aires, in 'Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens e Carta Sobre a Fortuna'
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