Será o engenho humano capaz de opôr uma barreira à marcha inexorável da decrepitude? Talvez. O nosso organismo é uma máquina; gasta-se, como todas as máquinas; e, por milagre da Natureza, ainda é aquela que, funcionando permanentemente, consegue durar mais tempo. Contentemo-nos com a ideia de que o homem de hoje vive mais do que vivia na Antiguidade clássica e na época medieval, mercê do progresso das técnicas, do conforto moderno da existência, da observação dos preceitos que a higiene, a ortobiose e a própria gerontologia (que quer ser uma ciência) prudentemente lhe aconselham. Vive, e viverá - bem entendido, se o deixarem. No regime, em que nos encontramos, de sucessivas guerras totais, se é certo que aumentam, em progressão aritmética, os recursos da ciência para prolongar a vida, - cresce, em progrssão geométrica, o esforço da humanidade para apressar a morte.
Júlio Dantas, in 'Páginas de Memórias'
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