Não
se tem ideia como abunda a mediocridade. (...) São pessoas como essas que
travam sempre, em todos os lados, a máquina accionada pelos homens de talento.
Os homens superiores são por natureza inovadores. Quando surgem deparam com o
disparate e a mediocridade por todos os lados (ela que tudo domina e que se
manifesta em tudo o que se faz). O seu impulso natural é assentar tudo de novo
em terreno sólido e experimentar caminhos novos, para fugir a essa vulgaridade
e parvoíce. Se por acaso eles triunfam e acabam por levar a melhor sobre a
rotina, têm de ser ver a contas, por seu turno, com os incapazes - que fazem
ponto de honra da cópia grosseira dos seus processos e estragam tudo o que lhes
vem às mãos.
Depois deste primeiro movimento, que leva
os inovadores a sairem das sendas já traçadas, segue-se quase sempre outro que
os faz, no fim da sua carreira, conter o indiscreto entusiasmo que vai sempre
demasiado longe e que, pelo exagero, arruina o que inventaram. Ao se darem
conta do triste uso que é feito das inovações que eles lançaram no mundo,
começam a elogiar aquilo que, afinal, graças a eles, foi ultrapassado. Talvez
haja neles como que um secreto impulso de egoísmo, que os leva a tiranizar a
tal ponto os seus contemporâneos e a considerar que só eles podem determinar o
que deve ou não ser criticado. É a sua quota-parte de mediocridade; esta
fraqueza fá-los por vezes desempenhar um papel ridículo e indigno da
consideração a que conquistaram direito.
Eugène Delacroix, in 'Diário'
Eugène Delacroix, in 'Diário'
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