Se desejamos tornar-nos fortes, temos,
primeiro, de comprender o que é a vontade. A vontade não é nenhuma entidade
mística, que presida aos outros elementos do carácter, qual mestre de banda -
sim, a soma, a substância de todos os nossos impulsos e disposições. Essa
energia formadora do carácter não tem senhor a quem obedeça além de si própria;
e é graças a ela que algum poderoso impulso pode vir a dominar e unificar o
complexo. Isto forma a «força de vontade» - um supremo desejo que se ergue
acima dos mais para arrastá-los num mesmo sentido ou para uma dada meta. Se não
descobrimos essa meta não alcançaremos a unidade - e seremos simples pedra de
que outro homem se utiliza nas suas construções.
Vem daí a inutilidade da leitura de livros
que apontam as estradas reais do carácter. Tenho diante de mim um volume de um
tal Leland (Londres, 1912), intitulado Tendes a Vontade Forte? ou Como
Desenvolver Qualquer Faculdade do Espírito pelo Fácil Processo do
Auto-Hipnotismo. Existem centenas destas obras-primas ao alcance dos simplórios
de todas as cidades. Mas o caminho é mais penoso e longo.
Esse caminho é o caminho da vida. Vontade, isto é, desejo unificado (Schopenhauer já o provou), constitui a forma característica da vida que cresce; e a sua força só aumenta quando a vida lhe defronta novos labores e novas vitórias. Se desejamos ser fortes, devemos, antes de mais nada, escolher o nosso objectivo; em seguida, avançar, aconteça o que acontecer. A prudência aqui reduz-se a conduzir o empreendimento por partes, porque cada passo em falso enfraquecer-nos-à, do mesmo modo que cada vitória parcial nos fortalecerá. A realização cria mais realizações; graças a pequenas conquistas ganhamos confiança para as grandes; a prática fomenta a vontade.
Will Durant, in "Filosofia da Vida"
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