Parte do conservantismo da idade madura
decorre da inteligência, que afinal percebe a complexidade das instituições e
as imperfeições do desejo; e parte vem do enfraquecimento das energias, o que
explica a imaculada moralidade dos homens exaustos. A princípio com
incredulidade, depois com desepero, vamos percebendo que o nosso reservatório
de energia já não se enche com a facilidade antiga; ou, como disse
Schopenhauer, começamos a consumir o capital em vez da renda do capital. Essa
descoberta anuvia por alguns anos o homem maduro e indu-lo a deblaterar contra
a brevidade da vida e a impossibilidade de realização de grandes obras. Está
ele já no alto da colina, de onde vê, lá no fundo, o fim inevitável - a morte.
Até aquele momento não admitia a morte, só pensando nela como um tema
académico, de desinteresse para os cofres. Subitamente tudo muda e começa a
vê-la de perto, e por mais que se esforce para não descer a colina, há que
descê-la. Os seus olhos voltam-se para o passado, para os dias em que tudo era
ascensão descuidosa; e compraz-se na companhia dos moços e crianças porque
deles haure, passageira e incompletamente embora, um pouco do divino
esquecimento da morte.
E por essas razões os anos maduros só encontram felicidade no trabalho e nos filhos. As esperanças loucas da juventude degeneram no paciente e calmo trabalho do homem que, como Sancho Pança, prefere uma ilhota no mediterrâneo a todo um continente na Utopia.
Will Durant, in "Filosofia da Vida"
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