No meio das nossas máquinas perdemos de
vista o facto de que a realidade básica da vida não está na política, nem na
indústria, mas nas relações humanas - as associações entre homem e mulher e as
destes com os filhos. Em redor destes dois núcleos do amor - amor entre macho e
fêmea e amor de mãe - toda a vida evolve. Há o caso daquela jovem
revolucionária que, ao realizar-se o «funeral vermelho» do seu amante (morto no
levantamento de 1917, em Moscovo), se lançou ao túmulo e, agarrada ao caixão do
defunto, gritou: «Enterrem-me também: que me importa a mim a Revolução, agora
que ele morreu?»
Esta moça poderia estar iludida ao julgar o
seu namorado um ser único na terra - mas sabia com essa sabedoria ingénita da
mulher, que a tremenda revolução era um incidente sem importância, se comparada
ao Mississipi de uniões amorosas, de gerações de novos seres e de morte que
constitui o caudal central da vida. Essa rapariga não ignorava, embora jamais
houvesse pensado nisso, que a família é mais que o Estado: sabia que a devoção
amorosa e o desespero calam mais fundo no coração do que tudo quanto é
económico, e que, afinal, a nossa felicidade não está na posse de bens, nem na
conquista de posição social e poder - mas sim no amar e ser amado.
Will Durant, in "Filosofia da Vida"
Will Durant, in "Filosofia da Vida"
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