A nossa cultura é hoje muito superficial, e
os nossos conhecimentos são muito perigosos, já que a nossa riqueza em mecânica
contrasta com a pobreza de propósitos. O equilíbrio de espírito que hauríamos
outrora na fé ardente, já se foi: depois que a ciência destruiu as bases
sobrenaturais da moralidade o mundo inteiro parece consumir-se num desordenado
individualismo, reflector da caótica fragmentação do nosso carácter.
Novamente somos defrontados pelo problema
atormentador de Sócrates: como encontrar uma ética natural que substitua as
sanções sobrenaturais já sem influência sobre a conduta do homem? Sem
filosofia, sem esta visão de conjunto que unifica os propósitos e estabelece a
hierarquia dos desejos, malbaratamos a nossa herança social em corrupção cínica
de um lado e em loucuras revolucionárias de outro; abandonamos num momento o
nosso idealismo pacífico para mergulharmos nos suicídos em massa da guerra;
vemos surgir cem mil políticos e nem um só estadista; movemo-nos sobre a terra
com velocidades nunca antes alcançadas mas não sabemos oara onde vamos, nem se
no fim da viagem alcançaremos qualquer espécie de felicidade.
Os nossos conhecimentos destroem-nos. Embebedem-nos com o poder que nos dão. A única salvação está na sabedoria.
Will Durant, in "Filosofia da Vida"
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