«Uma das mais estranhas ideias do vulgo, previu Henry Maine, é que o sufrágio universal pode promover e promoverá progresso, criando novas ideias, novas invenções, novas artes. Mas as probabiblidades são para que só produza uma forma nociva de conservantismo». Temos de admitir, com os ingleses ricos em preconceitos, que a democracia é hostil ao génio e à arte. Porque ela só dá valor ao que cabe dentro da compreensão dos espíritos médios; quando vê erguer-se o palácio de um cinema, julga tratar-se do Pártenon; «se dependesse da assembleia ateniense nunca o mundo teria a Acrópole» (Plutarco, Vida de Péricles).
A tirania intelectual do número pode tornar-se tão torturante como a dos
monarcas; em alguns estados americanos o conhecimento acima de um certo limite
já é considerado coisa perigosa. A desconfiança que a democracia tem da
individualidade decorre da teoria da igualdade; desde que todos são iguais,
basta a contagem dos narizes para a descoberta da verdade ou a santificação de
um costume. E a democracia não é apenas uma filha da era da máquina que governa
por meio de «máquinas»; ainda encerra em si a potencialidade da mais terrível
das máquinas - a compulsão dos ignorantes contra a diferença, contra os
espíritos superiores, contra tudo o que corrói a tradição. Em parte nenhuma do
mundo a educação está mais própriamente dotada e aparelhada do que na América -
e em parte nenhuma a educação é menos honrada e usada. Inundamos o país de
escolas, cursos superiores, universidades - e agora que todos se educam a
democracia não permite que a educação entre na máquina do governo.
Will Durant, in 'Filosofia da Vida'
Will Durant, in 'Filosofia da Vida'
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