A parte desconhecida da minha vida é a
minha vida escrita. Morrerei sem conhecer essa parte desconhecida. Como foi
escrito isto, porquê, como o escrevi, não sei, não sei como isto começou. Não
se pode explicar. Donde vêm certos livros? A página está vazia e, de repente,
já há trezentas páginas. Donde vem isto? É preciso deixar andar, quando se
escreve, não devemos controlar-nos, é preciso deixar andar, porque não sabemos
tudo de nós próprios. Não sabemos o que somos capazes de escrever.
Conheci grandes escritores que nunca
conseguiram falar disso - conheci Maurice Blanchot e Georges Bataille intimamente,
conheci Genet, creio que menos. Eles nunca sabiam, nunca falavam disso. Penso
que é errado, aliás. Há trinta anos, era uma espécie de pudor aprendido, em
parte, na escola sartriana, não se podia falar daquilo que se escrevia, não era
decente - e penso que em
Les Parleuses é a primeira vez que alguém fala disso, pelo
menos uma das primeiras vezes. É bom falar disso e, ao mesmo tempo, é muito
perigoso dar a ler textos antes de estarem terminados.
(...) Após o final de cada livro é o fim do mundo inteiro, é sempre assim, de cada vez. E depois tudo recomeça, como a vida.
Quando se escreve, não se pode falar em vez de escrever. O que se passa quando se escreve, nunca se pode dizer. Eu consigo ler uma passagem, mas depressa fico assustada.
Sou mais escritora do que vivente, que uma pessoa que vive. Naquilo que vivi, sou mais escritora do que alguém que vive. É assim que eu me vejo.
Marguerite Duras, in 'Mundo Exterior '
(...) Após o final de cada livro é o fim do mundo inteiro, é sempre assim, de cada vez. E depois tudo recomeça, como a vida.
Quando se escreve, não se pode falar em vez de escrever. O que se passa quando se escreve, nunca se pode dizer. Eu consigo ler uma passagem, mas depressa fico assustada.
Sou mais escritora do que vivente, que uma pessoa que vive. Naquilo que vivi, sou mais escritora do que alguém que vive. É assim que eu me vejo.
Marguerite Duras, in 'Mundo Exterior '
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