A escrita torna-nos selvagens. Regressamos
a uma selvajaria de antes da vida. E reconhecêmo-la sempre, é a das florestas,
tão velha como o tempo. A do medo de tudo, distinta e inseparável da própria
vida. Ficamos obstinados. Não podemos escrever sem a força do corpo. É preciso
sermos mais fortes que nós para abordar a escrita, é preciso ser-se mais forte
do que aquilo que se escreve. É uma coisa estranha, sim. Não é apenas a
escrita, o escrito, são os gritos dos animais da noite, os de todos, os vossos
e os meus, os dos cães. É a vulgaridade maciça, desesperante, da sociedade. A
dor é, também, Cristo e Moisés e os faraós e todos os judeus e todas as
crianças judias e é, também, o lado mais violento da felicidade. Acredito
nisso, sempre.
Marguerite Duras, in "Escrever"
Marguerite Duras, in "Escrever"
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