Quando já se viveu por muito tempo numa
civilização específica e com frequência se tentou descobrir quais foram as suas
origens e ao longo de que caminho ela se desenvolveu, fica-se às vezes tentado
a voltar o olhar para outra direção e indagar qual o destino que a espera e
quais as transformações que está fadada a experimentar. Logo, porém, se descobre
que, desde o início, o valor de uma indagação desse tipo é diminuído por
diversos fatores, sobretudo pelo facto de apenas poucas pessoas poderem
abranger a actividade humana em toda a sua amplitude. A maioria das pessoas foi
obrigada a restringir-se a somente um ou a alguns dos seus campos.
Entretanto,
quanto menos um homem conhece a respeito do passado e do presente, mais
inseguro terá de mostrar-se o seu juízo sobre o futuro. E há ainda uma outra
dificuldade: a de que precisamente num juízo desse tipo as expectativas
subjectivas do indivíduo desempenham um papel difícil de avaliar, mostrando ser
dependentes de factores puramente pessoais de sua própria experiência, do maior
ou menor optimismo da sua atitude para com a vida, tal como lhe foi ditada pelo
seu temperamento ou pelo seu sucesso ou fracasso.
Finalmente, faz-se sentir o
facto curioso de que, em geral, as pessoas experimentam o seu presente de forma
ingénua, por assim dizer, sem serem capazes de fazer uma estimativa sobre o seu
conteúdo; têm primeiro de se colocar a uma certa distância dele: isto é, o
presente tem de se tornar o passado para que possa produzir pontos de
observação a partir dos quais elas julguem o futuro.
Sigmund Freud, in 'O Futuro de uma Ilusão'
Sigmund Freud, in 'O Futuro de uma Ilusão'
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