Quando chega uma carta tua todas as
divagações acabam, e acordo para a vida. Todos os problemas estranhos deixam de
ter importância, os misteriosos quadros de doenças se desvanecem, e acabam-se
as teorias vazias «de acordo com o estado presente da ciência», como elas são
chamadas. Então o mundo fica tão acolhedor, tão alegre, tão fácil de
compreender. A minha doce querida não é uma ilusão, ela não tem que ser
comprovada por testes químicos; de facto ela pode ser observada a olho nú.
Ainda bem que ela não tem nada a ver com doenças – e espero que continue –
excepto por ter sido suficientemente imprudente para tomar um médico para
amante. Oh Marty, é muito mais gratificante ser um ser humano em vez de um
armazém de certas experiências monótonas. Mas ninguém se pode permitir a ser um
ser humano por uma hora a não ser que tenha sido uma máquina ou um armazém por
onze horas. E aqui chegámos, onde começámos.
Carta de Sigmund Freud a Martha Bernays, 9 de Outubro 1883 (excerto)
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