As criações, obras de arte, são imaginárias
satisfações de desejos inconscientes, do mesmo modo que os sonhos, e, tanto
como eles, são, no fundo, compromissos, dado que se vêem forçadas a evitar um
conflito aberto com as forças de repressão. Todavia, diferem dos conteúdos
narcisistas, associais, dos sonhos, na medida em que são destinadas a despertar
o inteesse noutras pessoas e são capazes de evocar e satisfazer os mesmos
desejos que nelas se encontram inconscientes. À parte isto, fazem uso do prazer
perceptivo da beleza formal, aquilo a que chamei um prémio-estímulo.
Aquilo que
a psicanálise foi capaz de fazer consistiu em captar as relações entre as
impressões da vida do artista, as suas experiências causais e as suas obras e,
a partir delas, reconstruir a sua constituição e os impulsos que se movem
dentro dele. Não se deve julgar que o salaz que procura uma obra de arte se
anule pelo conhecimento obtido pela análise. A este respeito é possível que o
profano espere acaso demasiado da análise, mas deve advertir-se que ela não
esclarece os dois problemas que são, provavelmente, os mais interessantes para
ele: não esclarece quanto à natureza dos dotes do artista, nem pode explicar os
meios de que o artista se serve para trabalhar a técnica artística.
Sigmund Freud, in 'O Pensamento Vivo de Freud'
Sigmund Freud, in 'O Pensamento Vivo de Freud'
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