"A elegância distinta (...) é difícil de
imitar, porque, no fundo, ela é negativa e pressupõe uma prática longa e
constante. Pois a pessoa não deve, por exemplo, representar na sua atitude
qualquer coisa que indique dignidade, já que dessa maneira se cai facilmente
num carácter formal e orgulhoso; antes se deve, simplesmente, evitar o que é
indigno, o que é vulgar; a pessoa nunca se deve esquecer, deve prestar sempre
atenção a si e aos outros, não perdoar nada a si própria, não fazer aos outros
nem de mais, nem de menos, não parecer comovida com nada, não se impressionar
com nada, nunca se apressar demasiado, saber dominar-se em qualquer momento e,
assim, manter um equilíbrio exterior, por muito forte que seja interiormente o
temporal.
O homem nobre pode, em certos momentos,
desleixar-se; o homem distinto nunca. Este é como um homem muito bem vestido:
não se enconstará em lado nenhum e toda a gente evitará roçar nele. Ele
distingue-se dos outros e, todavia, não deve ficar sozinho; pois, tal como em
todas as artes e, portanto, também nesta, o mais difícil deve, finalmente, ser
executado com facilidade: por isso, a pessoa distinta, apesar de todo o
isolamento, deve parecer sempre ligada a outrem; em parte alguma, deve
mostrar-se rígida; em todo o lado deve ser polida e aparecer sempre como a
primeira, sem nunca se impor como tal.
Vê-se, por conseguinte, que, para parecer distinto, se tem de ser realmente distinto.
Johann Wolfgang von Goethe, in 'Os Anos de Aprendizagem de Wilhelm Meister'
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