Nós temos em toda a vida, especialmente na
esfera da comunicação espiritual, o hábito errado de emprestarmos às outras
pessoas muito daquilo que nos é próprio, como se tivesse de ser mesmo assim.
Mas como elas, além disso, nos mostram também o que têm de si próprias, daí resultam,
dado que nós procuramos criar uma unidade com as duas partes, autênticos
monstros, semelhantes àqueles que, numa casa com muitos cantos, a luz de uma
lanterna produz com uma parte de sombras e uma parte de objectos reais.
Não há
nenhuma operação mais útil mas, ao mesmo tempo, mais difícil que deduzir da
imagem do outro aquilo que inconscientemente lhe foi emprestado. No entanto, só
assim fazemos dos outros verdadeiras pessoas - ou, dito de uma forma mais
breve: o homem julga compreender os homens quando acrescenta a uma suposta e
ilimitada analogia com o seu próprio eu ainda alguma coisa que é contrária a
esse eu. É a experiência que leva cada um a poder lidar com pessoas que tem de
imaginar, na sua essência, diferentes de si mesmo.
Hugo Hofmannsthal, in "Livro Dos Amigos"
Hugo Hofmannsthal, in "Livro Dos Amigos"
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