Mas é exactamente isso que é supreendente
em ti: tu gostas de dar prazer. Gostas de fazer do teu corpo um objecto
agradável, gostas de dar prazer com o teu próprio corpo: é precisamente isso o
que os ocidentais já não conseguem fazer. Perderam completamente o sentimento
da dádiva. Mesmo esforçando-se, não conseguem assumir o sexo como uma coisa
natural.
Além de terem vergonha do seu corpo, muito diferente do corpo das
estrelas pornográficas, também não sentem uma verdadeira atracção pelo corpo
dos outros. Ora, é impossível fazer amor sem um certo abandono, sem a
aceitação, pelo menos temporária, de um certo estado de fraqueza e de
dependência. Tanto a exaltação sentimental como a obsessão sexual têm a mesma
origem, resultam ambas do esquecimento parcial do eu; é algo que não pode
acontecer sem que a pessoa perca alguma coisa de si mesma.
E nós tornámo-nos
frios, racionais, extremamente conscientes dos nossos direitos e da nossa
existência individual; primeiro que tudo, queremos evitar a alienação e a
dependência; além disso, vivemos obcecados com a saúde e com a higiene: e não
são essas as condições ideais para fazer amor.
Michel Houellebecq, in 'Plataforma'
Michel Houellebecq, in 'Plataforma'
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