Politicamente falando, não há mais do que
um princípio - a soberania do homem sobre si mesmo. Essa soberania de mim e
sobre mim chama-se Liberdade. Onde duas ou mais destas soberanias se associam
principia o Estado. Nesta asssociação, porém, não se dá abdicação de qualidade
nenhuma. Cada soberania concede certa quantidade de si mesma para formar o
direito comum, quantidade que não é maior para uns do que para os outros. Esta
identidade de concessão que cada um faz a todos chama-se Igualdade. O direito
comum não é mais do que a protecção de todos dividida pelo direito de cada um.
Esta protecção de todos sobre cada um chama-se Fraternidade. O ponto de
intersecção de todas estas soberanias que se agregam chama-se Sociedade.
Ora, sendo essa intersecção uma junção, por
consequência esse ponto é um nó. Daqui vem o que nós chamamos laço social.
Dizem alguns «contrato social», o que vem a ser o mesmo, visto que a palavra
contrato é etimologicamanete formada com a ideia de laço. Vejamos agora o que é
a igualdade, pois se a liberdade é o cume, a igualdade é a base. A igualdade,
cidadãos, não é o nivelamento de toda a vegetação; uma sociedade de grandes
cânulas de erva e pequenos carvalhos; um tecido de invejas; é, civilmente, a
admissão de todas as aptidões; politicamente, o mesmo peso para todos os votos.
Victor Hugo, in 'Os Miseráveis'
Victor Hugo, in 'Os Miseráveis'
Nenhum comentário:
Postar um comentário