Temos pelos nobres e para as pessoas de
destaque um cíume estéril, ou um ódio impotente que não nos vinga de seu
esplendor e elevação, e só faz acrescentar à nossa própria miséria o peso
insuportável da felicidade alheia: que fazer contra uma doença de alma tão
inveterada e contagiosa? Contentemo-nos com pouco e com menos ainda, se
possível; saibam perder na ocasião; a receita é infalível, e concordo em
experimentá-la: evito com isso ser empurrado na porta pela multidão de clientes
ou cortesãos que a casa de um ministro despeja diversas vezes por dia; penar na
sala de audiência, pedir tremendo ou balbuciando uma coisa justa; suportar a
gravidade do ministro, o seu riso amargo, e o seu laconismo. Então não o odeio
mais, e não o invejo mais; ele não me faz nenhuma súplica, eu não lhe faço
nenhuma; somos iguais, a não ser no facto dele não estar tranquilo, e eu estar.
(...) Deve-se silenciar sobre os poderosos; há quase sempre adulação ao dizer
bem deles; há perigo em dizer mal enquanto vivem, e cobardia quando já
morreram.
Jean de La Bruyére,
in "Os Caracteres"
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