O interesse é a alma do amor-próprio, de
modo que, tal como o corpo privado da sua alma não vê, não ouve, não conhece,
não sente e não se move, o amor-próprio, se pode assim dizer-se, separado dos
seus interesses, não vê, não escuta, não sente e não se move.
Daí que um homem que corra a terra e os
mares para seu benefício fique de repente paralisado para os interesses dos
outros e daí, também, o adormecimento em que cai de repente, tal como esta
espécie de morte que provocamos a todos aqueles a quem narramos a nossa vida.
Daí vem também a rápida ressurreição quando
na nossa narrativa pomos qualquer coisa que lhes diga respeito, de modo que
vemos nas nossas conversas e nos nossos tratados que, no mesmo instante, um
homem adormece e volta a si, consoante o interesse se aproxima ou se afasta
dele.
La Rochefoucauld, in 'Reflexões'
La Rochefoucauld, in 'Reflexões'
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