Os carácteres fundamentais de um povo não têm necessidade de ser numerosos. Bem fixos, eles traçam o seu destino. Consideremos os ingleses, por exemplo. Os elementos que orientam a sua história podem ser resumidos em poucas linhas: culto do esforço persistente, que impede de recuar diante do obstáculo e de considerar uma desgraça como irremediável; respeito religioso dos costumes e de tudo o que é validado pelo tempo; necessidade de acção e desdém das vãs especulações do pensamento; desprezo da fraqueza, muito intensa compreensão do dever, vigilância de si mesmo julgada como qualidade essencial e entretida cuidadosamente por especial educação.
Certos defeitos de carácter, insuportáveis nos indivíduos, tornam-se virtudes quando são colectivos; por exemplo, o orgulho.
Esse sentimento é muito diferente da
vaidade, simples necessidade de brilhar em público, que exige testemunhas, ao
passo que o orgulho não reclama nenhum. O orgulho colectivo foi um dos grandes
estimulantes da actividade dos povos. Graças a ele, o legionário romano achava
que era uma recompensa suficiente fazer parte de um povo que dominava o
universo. A inquebrantável coragem dos japoneses, na sua última guerra,
provinha de um orgulho idêntico.
Esse sentimento é, além disso, uma fonte de progresso. Desde que uma nação se convence da sua superioridade, ela leva ao máximo os esforços necessários para a manter.
O carácter, e não a inteligência, diferencia os povos e estabelece entre eles simpatias ou antipatias irredutíveis. A inteligência é da mesma espécie para todos. O carácter oferece, pelo contrário, grandes dissemelhanças. Povos distintos diversamente impressionados pelas mesmas coisas procederão, naturalmente, de maneiras diferentes em circunstâncias que pareçam análogas. Quer se trate, aliás, de povos ou de indivíduos, os homens são sempre mais divididos pelas oposições do carácter do que pelas divergências dos seus interesses ou da sua inteligência.
Gustave Le Bon, in "As Opiniões e as Crenças"
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