Com duas pessoas eu já entrei em
comunicação tão forte que deixei de existir, sendo. Como explicar? Olhávamo-nos
nos olhos e não dizíamos nada, e eu era a outra pessoa e a outra pessoa era eu.
É tão difícil falar, é tão difícil dizer coisas que não podem ser ditas, é tão silencioso.
Como traduzir o profundo silêncio do encontro entre duas almas? E dificílimo
contar: nós estávamos nos olhando fixamente, e assim ficamos por uns instantes.
Éramos um só ser.
Esses momentos são o meu segredo. Houve o
que se chama de comunhão perfeita. Eu chamo isso de: estado agudo de
felicidade. Estou terrivelmente lúcida e parece que estou atingindo um plano
mais alto de humanidade. Foram os momentos mais altos que jamais tive.
Clarice Lispector, in Crónicas no 'Jornal do Brasil (1971)'
Clarice Lispector, in Crónicas no 'Jornal do Brasil (1971)'
Nenhum comentário:
Postar um comentário