As pessoas estarão sempre prontamente
inclinadas a incluir entre os predicados psíquicos de uma cultura os seus
ideais, ou seja, as suas estimativas a respeito de que realizações são mais
elevadas e em relação às quais se devem fazer esforços por atingir. Parece, a
princípio, que esses ideais determinam as realizações da unidade cultural;
contudo, o curso real dos acontecimentos parece indicar que os ideais
baseiam-se nas primeiras realizações que foram tornadas possíveis por uma
combinação entre os dotes internos da cultura e as circunstâncias externas, e
que essas primeiras realizações são então erigidas pelo ideal como algo a ser
levado avante. A satisfação que o ideal oferece aos participantes da cultura é,
portanto, de natureza narcísica; repousa no seu orgulho pelo que já foi
alcançado com êxito. Tornar essa satisfação completa exige uma comparação com
outras culturas que visaram a realizações diferentes e desenvolveram ideais
distintos. É a partir da intensidade dessas diferenças que toda a cultura
reivindica o direito de olhar com desdém para o resto. Desse modo, os ideais
culturais tornam-se fonte de discórdia e inimizades entre unidades culturais
diferentes, tal como se pode constatar claramente no caso das nações.
Sigmund Freud, in "O Futuro de Uma Ilusão"
Sigmund Freud, in "O Futuro de Uma Ilusão"
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