Parece-me que quando se relata uma acção
boa ou má não se deve nem louvá-la, nem censurá-la, pois ela faz sentir muito
bem o que é, sendo melhor deixar livre o julgamento a seu respeito. E, depois,
como a maior parte dos louvores provêm da adulação, a sociedade raramente se
compraz com isso, e a maledicência leva a pensar que se é invejoso ou maldoso.
É bem possível exaltar as pessoas que se ama, sem falar muito do seu mérito; e
para os outros que não se estima, é um favor não dizer nada deles.
Acho também que todo o tipo de gente, mesmo
a mais modesta, estima que a consideremos e que a tratemos afavelmente. Há
poucas pessoas, não obstante, que toleram ser louvadas quando estão presentes,
pois, normalmente, procede-se desastradamente, expondo-as e embaraçando-as. Mas
os louvores que honram aquele que os faz, assim como aquele que os recebe,
agradam muito quando são descobertos por meio de alguém que os relata, e quando
não são suspeitos nem de interesse, nem de adulação e particularmente se são de
boa origem. Pois, assim como o afecto é bem acolhido apenas quando vem de uma
pessoa amável, também é necessário ter mérito, quando se deseja que se estimem
os louvores que se faz.
Antoine Gombaud, in 'Do Espírito da Conversação'
Antoine Gombaud, in 'Do Espírito da Conversação'
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