A verdade é um ideal tipicamente jovem, o amor, por seu turno, um ideal das pessoas maduras e daqueles que se esforçam por estar preparados para enfrentar a diminuição das energias e a morte. As pessoas que pensam só deixam de ambicionar a verdade quando se dão conta que o ser humano está extraordinariamente mal dotado pela natureza para o reconhecimento da verdade objectiva, pelo que a busca da verdade não poderá ser a actividade humana por excelência.
Mas também aqueles que jamais chegam a tais
conclusões fazem, no decurso das suas experiências inconscientes, um percurso
semelhante. Ter consigo a verdade, a razão e o conhecimento, conseguir
distinguir com precisão entre o Bem e o Mal, e, em consequência disso, poder
julgar, punir e sentenciar, poder fazer e declarar a guerra - tudo isto é
próprio dos jovens e é à juventude que assenta bem. Se, porém, quando
envelhecemos, continuamos a ater-nos a estes ideais, fenece a já se si pouco
vigorosa capacidade de «despertar» que possuímos, a capacidade de reconhecer
instintivamente a verdade sobre-humana.
Hermann Hesse, in 'Elogio da Velhice'
Hermann Hesse, in 'Elogio da Velhice'
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