Aquele que se expõe à morte deve estar à
altura de incutir à sua época a força da exasperação. Se, pois, vejo um homem
até então completamente desconhecido dos seus contemporâneos aparecer afirmando
que está pronto a sacrificar a sua vida e a enfrentar a morte, muito
tranquilamente então (...) eu demitiria este profeta. Nunca um tal homem
chegaria ao ponto de ser condenado à morte pela sua época, ainda que, por outro
lado, tivesse realmente a coragem de morrer e a isso estivesse disposto.
Ele
não conhece o segredo; pensa evidentemente que os seus contemporâneos, os mais
fortes, se encarregarão da execução, quando ele deveria ser de tal modo
superior ao seu tempo que não o deixasse, permanecendo ele próprio passivo,
cumprir sozinho o seu trabalho de tal modo superior que não lho indicasse mas
livremente o constrangesse a sair-se bem dele. Os juízes costumam deixar dormir
a pena capital quando um infeliz desgostado com a vida deseja a morte, e tal é
também a sabedoria desta geração: que prazer teria ele em ter feito perecer
este herói!
Soren Kierkegaard, in 'Um Homem Tem o Direito de se Deixar Condenar à Morte pela Verdade?'
Soren Kierkegaard, in 'Um Homem Tem o Direito de se Deixar Condenar à Morte pela Verdade?'
Nenhum comentário:
Postar um comentário