Fala-se muito da fidelidade feminina, mas
raras vezes se diz o que convém. Do ponto de vista estritamente estético, ela
paira como um fantasma por sobre o espírito do poeta, que vemos atravessar a
cena em demanda da sua amada, que é também um fantasma preso à espera do amante
- porque quando ele aparece e ela o reconhece, pronto, a estética já não tem
mais que fazer. A infedilidade da mulher, que podemos relacionar directamente
com a fidelidade precedente, parece relevar essencialmente da ordem moral,
visto já que o cíume toca sempre os aspectos de paixão trágica.
Há três casos em que o exame é favorável à mulher: dois mostram a fidelidade, e
um a infedilidade. A fidelidade feminina será enorme, excederá tudo quanto a
gente possa pensar, enquanto a mulher não tiver a certeza de ser
verdadeiramente amada: será muito grande, ainda que nos pareça incompreensível,
quando o amante lhe perdoar; no terceiro caso temos a infedilidade.
Soren Kierkegaard, in 'O Banquete' (Discurso de Constantino)
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