As suas partes essenciais mantêm-se, contudo, mas cumpre que sejam constantemente alentadas. Qualquer que seja a sua força no momento do seu triunfo, uma crença que não é continuamente defendida logo se desagrega. A história está repleta de destroços de crenças que, por essa razão, tiveram apenas uma existência efémera. A codificação das crenças em dogmas constitui um elemento de duração que não poderia bastar. A escrita unicamente modera a acção destruidora do tempo.
Uma crença qualquer, religiosa, política, moral ou social mantém-se sobretudo pelo contágio mental e por sugestões repetidas. Imagens, estátuas, relíquias, peregrinações, cerimônias, cantos, música, prédicas, etc., são os elementos necessários desse contágio e dessas sugestões.
Confinado num deserto, privado de qualquer
símbolo, o crente mais convicto veria rapidamente a sua fé declinar. Se,
entretanto, anacoretas e missionários a conservam, é porque incessantemente
relêem os seus livros religiosos e, sobretudo, se sujeitam a uma multidão de
ritos e de preces. A obrigação para o padre de recitar diariamente o seu
breviário foi imaginada pelos psicólogos que conheciam bem a virtude sugestiva
da repetição.
Nenhuma fé é durável se dela se eliminam os elementos fixos que lhe servem de apoio. Um Deus sem tempestades, sem imagens, sem estátuas, perderia logo os seus adoradores. Os iconoclastas eram guiados por um instinto seguro, quando quebravam as estátuas e os templos das divindades, que eles queriam destruir.
Os homens da Revolução, procurando anular a influência do passado, tinham igualmente razão, no seu ponto de vista, quando saqueavam as igrejas, as estátuas e os castelos. Mas essa destruição não foi suficientemente prolongada para actuar nos sentimentos fixados por uma hereditariedade secular. A sua duração é mais longa do que a das pedras que as simbolizam.
Gustave Le Bon, in 'As Opiniões e as Crenças'
Nenhum comentário:
Postar um comentário