O prazer é abrir as mãos e deixar escorrer
sem avareza o vazio-pleno que se estava encarniçadamente prendendo. E de súbito
o sobressalto: ah, abri as mãos e o coração, e não estou perdendo nada! E o
susto: acorde, pois há o perigo do coração estar livre!
Até que se percebe que nesse espraiar-se está o prazer muito perigoso de ser.
Mas vem uma segurança estranha: sempre ter-se-á o que gastar. Não ter pois
avareza com esse vazio-pleno: gastá-lo.
Clarice Lispector, in Crónicas no 'Jornal do Brasil (1972)'
Nenhum comentário:
Postar um comentário