Sonetos

Se, órfão do olhar humano e da fortuna,
Choro na solidão meu pobres estado
E o céu meu pranto inútil importuna,
Eu entro em mim a maldizer meu fado;

Sonho-me alguém mais rico de esperança.
Quero feições e amigos mais amenos,
Deste o pendor, a meta que outro alcança,
Do que mais amo contentado o menos.

Mas, se nesse pensar, que me magoa,
De ti me lembro acaso - o meu destino,
Qual cotovia na alvorada entoa

da negra terra aos longes céus um hino.
E na riqueza desse amor que evoco,
Já minha sorte com a dos reis não troco.
William Shakespeare

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